sábado, 7 de abril de 2012

Trasfega manual e por gravidade - soutirage manuel et par gravité

Como tinha explicado em post anteriores, tenho trabalhado os vinhos sem grandes equipamentos, utilizando a força dos braços e a gravidade.

Foi mais uma vez o caso na ultima trasfega que fiz aos vinhos de 2010, no inicio de Março.

A trasfega é o que costumam chamar de "passargem a limpo do vinho".
O vinho com o tempo vai acumulando as borras no fundo da vazilha. Periodicamente é assim necessario separar o vinho "limpo" das borras que se acumularam no fundo da vazilha.
Isso permite que o vinho clarifique, fique mais limpido, e ganhe uma estabilidade micribilogica, ja que as borras contêm leveduras mortas e bacterias.

Neste caso tinha 5 barricas a passar a limpo.
Como sempre a primeira coisa que fiz foi ir encher garrafões de agua de furo, agua limpa, sem chloro, que me permite assim limpar os pipos depois de ter retirado o vinho e antes de o voltar a la por.


E importante que seja agua de furo, porque a agua da rede contem chloro, precursor aromatico do cheiro a rolha, defeito a evitar.

Enchi assim vinte e tal garrafões para ter 4 garrafões por barrica e mais alguns de sobras.


Depois cada barrica é tratada da mesma forma.
Inicia-se o processo, ata-se uma mangueira a um pau, deixando-se um espaço e introduz-se no pipo. Quando o pau bate no fundo, a mangueira com o espaço deixado fica por cima das borras, o que permite so retirar a parte limpa.


Do outro lado da mangueira, cria-se um depressão, aspirando com a boca.
Assim que pegou larga-se logo a mangueira para não ficarmos aflitos com o fluxo do vinho nos pulmões...


O vinho cai então numa pequena vazilha, sem ser puxado por bombas, apenas por gravidade, o que para o vinho é muito mais suave, pois a bomba é pratico mas tem o inconvenientes de violentar um pouco o vinho.


Aproveita-se então para adicionar o sulfuroso necessario a correcção que se deseja realizar.
Como ja tinha explicado, ja tinha medido o sulfuroso livre de cada barrica no dia anterior, por isso ja sabia o que tinha de deitar em cada caso, sempre com o objectivo de não abusar do sulfuroso, para o bem do vinho e da sua expressão, mas tambem para o bem do consumidor.

Quando para o fluxo de vinho e que ja so restam as borras no fundo da barrica, usam-se os braços para mover a barrica e depois evacuar as borras pelo batoque.

Depois deita-se agua dentro da barrica e lava-se por dentro, movimentando a barrica durante alguns minutos de um lado para o outro. Envajei-se depois a barrica e repete-se a operação até sair agua limpa.


Deixa-se então a barrica a esgotar.

O vinho volta-se depois a por dentro da barrica, neste caso mais uma vez sem bombas, com cantaros, a força dos braços.

Trabalho pesado e longo, mas respeituoso do vinho.

Como retiramos as borras e que temos de atestar a barrica para o vinho não oxidar, temos de utilizar as sobras que temos, neste caso em garrafões.
A solução garrafão não é optimal mas é a que tenho. No futuro a ver se consigo uma cuba "sempre cheia", daria muito jeito e sobretudo segurança.



Para passar a limpo 5 barricas foi assim preciso um dia de trabalho a duas pessoas.
Ambos chegamos ao fim do dia estafados, mas conscientes da qualidade do trabalho realizado.

E caso para dizer que se trata de vinho feito a mão, "hand made" ou de "alta costura" para usar termos um pouco mais pedantes.

Em maio sera a vez de passar a limpo os vinhos de 2011.

4 comentários:

  1. Parabéns António pelo excelente trabalho e o relato muito interessante. Comecei quase assim em 1994.....
    Abraço Peter

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  2. Viva Peter!
    Muito obrigado pelo seu comentario, fico contente por ter gostado.
    Quando se tem um sonho temos de lutar por ele, você a esse respeito é um excelente exemplo.
    Olhe, ainda no ultimo fim de semana abri um Qta das Marias TN 2007, teve muito sucesso entre os convivas.
    Abraço
    Antonio

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  3. Boa noite. Adorei, agora uma dica. Como sabia a quantidade de sulfúrico que tinha que colocar?

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    1. Fez analise ao vinho quando estava nas barricas, muitos parabens! Gosto do seu trabalho e do blogue. Abraço, Gonçalo

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